REMADOR DE 90 ANOS REPRESENTARÁ O BRASIL NO CAMPEONATO MUNDIAL DE REMO NA HUNGRIA
O Clube de Regatas Aldo Luz terá, entre seus competidores, um campeão de 90 anos representando o Brasil no Campeonato Mundial da Hungria em 2019

Clube de Regatas ALDO LUZ em Florianópolis

Ex-campeões Alemães que representaram Argentina em 89

World Rowing Marsters Regatta - 2005 - 1o. Lugar

Colônia Alemã 92

Escócia



World Rowing Marsters Regatta - 2005 - Primeiro Lugar


Foto: Acervo Sadi Berger - Fonte: Carlos Daminião

Florianópolis - Acervo Sadi Berger - Fonte: Carlos Daminião

Navio Carl Hoepcke - Florianópolis - Anos 50

Florianópolis - Remo na Rua João Pinto - Fonte: Carlos Damião

Odilon Maia Martins - Troféus e medalhas - Foto: Ismênia Nunes


Odilon Maia Martins - Medalhas

`Medalhas de 2018 - Florida / Copenhagen

Treinadora Tainá Korpalski

Desafio Volta a Ilha - Fonte: Clube de Regatas Aldo Luz

Troféu Desafio Volta a Ilha - Aldo Luz

Matheus Henrique da Silva Alvares

Carlos Alberto Dutra "Liquinho" remador há 60 anos e André Arthur Dutra, ex-Presidente do Clube membro do Conselho Deliberativo

Navio de Guerra Fenício - Fonte: Invita Minerva

Motrel 1976 Remo Feminino - Fonte: Link Esporte

Litografia de A.L. Guimarães, impressa na oficina de Heaton e Rensburg, que retrata a regata organizada pela Sociedade Recreio Marítimo, no Rio de Janeiro, em 01/11/1851 - Fonte: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

Parque Náutico Walter Lange

O Clube de Regatas Aldo Luz participará do Campeonato Mundial de Remo na Hungria em setembro. O clube será representado por remadores de diversas categorias e idades. Entre os competidores, um nos chamou atenção devido à idade avançada. Trata-se do competidor Odilon Maia Martins, de 90 anos. Odilon nasceu em 1929 e rema há setenta anos, iniciou no Remo oficialmente com 20 anos na cidade de São Francisco do Sul (SC). Foi campeão catarinense, sul-americano, além de ter vencido 20 campeonatos mundiais.
O primeiro mundial, de que participou foi em 1982, na Holanda. Odilon ficou em 2º lugar na categoria Master. No mesmo ano participou em São Paulo da Regata Internacional, ficando em 1º lugar na categoria Skiff 50 com o tempo de 4m02s.
Em 1989, devido ao centenário do Clube Teutônia em Buenos Aires, na Argentina, Odilon e seu parceiro Manoel Silveira competiram com dois alemães que foram trazidos da Alemanha exclusivamente para representar a Argentina. Aliás, a Argentina nem participou das competições com receio de perder para os alemães. Odilon e Silveira venceram a dupla alemã no sul-americano Master no Double Skiff. A dupla era considerada a melhor da Europa. Essa vitória fez com que eles competissem no mundial. O campeão afirma que este campeonato foi um dos mais marcantes, já que foi a primeira vez que ganharam de campeões europeus. E desde então, Odilon vem vencendo. Nesses campeonatos mais antigos os barcos e os remos eram de madeira, os atuais são de fibra.
Nos anos seguintes, de
1991 a 1994, Odilon ganhou todas as competições. Em 91 na cidade de Miami,
Flórida (EUA), em 92 na Alemanha, em 93 venceu em Viena, na Áustria. Na
ocasião, participou de três provas em duas categorias, o Skiff e o Double Skiff.
No Double, seu parceiro de remo era
Luiz Melo. A dupla ganhou as duas modalidades. Em 1994, venceu a prova na
Espanha. O remador diz que cada campeonato tem uma história. E lembra de um
episódio ocorrido em 96 quando ficaram uma semana treinando em Berlim, na
Alemanha, para, então, competirem em Budapeste, na Hungria.
Questionamos se em algumas das competições houve alguma adversidade em relação à mudança no tempo, frio, por exemplo, e prontamente Odilon lembra da competição na Escócia. Explica que enquanto aguardavam a data da competição fazia o maior calor, porém, no dia do campeonato de Remo, no sábado, o clima mudou totalmente, de quente para extremamente frio, digamos 24 graus para 4 graus. Odilon teve que tomar muito chocolate quente para suportar a temperatura baixa. Foi o dia mais frio em que remou.
Na Lituânia, Odilon e Edison Altino Pereira, desta vez formando nova dupla, competiram e foram campeões.
Em 2000, Odilon funda a Associação dos Remadores Master. Esta associação reúne os três clubes da cidade de Florianópolis: Aldo Luz, Martinelli e Riachuelo. Cada um compete por seu clube, a diferença é que ao se unirem em uma associação puderam participar das competições: brasileiro, mundial e sul-americano. Ainda em 2000, Odilon foi campeão na Bélgica e continuou representando o Clube de Regatas Aldo Luz em sua categoria. Em 2001, Odilon, foi campeão em São Francisco na Califórnia. Nestas duas competições, excepcionalmente, foi disponibilizada uma verba que dava para pagar o hotel, a inscrição e o aluguel de barcos. Em 2005, ganhou o 1º lugar no Campeonato Mundial de Regatas Master no Skiff. Em 2006, em Nova Jersey (EUA), foi campeão no Mundial Master de Skiff. Em 2010 ganhou no Canadá o Four Skiff os campeões foram: Odilon, Sadi, Edison Altino Pereira e o argentino Cid de La Paz. Em 2016, ganhou o Mundial de Regatas Master em Copenhagen, na Dinamarca.
Em 2018, Odilon foi Campeão no Mundial, desta vez na Flórida. E, em 2019, a exemplo de 96, o campeonato será novamente em Budapeste, na Hungria, e Odilon, que tem ganhado todas, participará das competições.
Questionado se a imprensa faz uma cobertura no Exterior, ele nos responde: "Não! Nada! o Remo não é valorizado como os demais esportes. Se eu fosse jogador de futebol, já estaria rico". E conta-nos algumas histórias destes setenta anos como remador:
A primeira prova de oito remos realizada aqui em Florianópolis foi em 1954, eu era competidor de outro clube que ainda não tinha barcos bons para competir. Mas o clube comprou barcos novos de São Paulo e eu ganhei a competição. Aquele ano foi o primeiro ano em que o Clube Aldo Luz, em que estou hoje, perdeu. O clube vinha ganhando todas, mas aquela competição eu ganhei. Em 56 novamente venci a prova de oito remos, aquela foi a primeira prova de oito remos que o Riachuelo ganhou comigo remando.
Entre 1950 a 1968 o povo acompanhava as regatas de perto. Naquela época, as competições ocorriam na rua João Pinto, próximo à Praça XV, tudo aquilo era mar. Os ônibus deixavam os passageiros nas proximidades, os barcos passavam pelo Mercado Público, um grande número de pessoas acompanhava as provas de Remo. Ali mesmo, em cima do Clube Aldo Luz, havia uma rádio, a Rádio Diário da Manhã e em cima do Martinelli, a Rádio Guarujá. As rádios davam notícias o tempo todo dos campeonatos; era como o futebol hoje, não existia televisão. A população da cidade acompanhava tanto o treinamento quanto as notícias do Remo. Naqueles dias, havia pessoas assistindo desde a Capitania dos Portos (Estreito), até o Trapiche da Hoepcke; o Remo era muito valorizado na época. A Hoepcke tinha dois navios, "Carl" e "Ana", o primeiro era de passageiros e carga e o segundo só de carga."
Odilon diz que o navio chegava a inclinar; era muita gente de um lado só da embarcação. E continua nos narrando os acontecimentos da época:
No governo de Irineu Bornhausen, de 51 a 56, o governador ia até São Paulo prestigiar os campeonatos de Remo e chegava a receber os ganhadores no Palácio do Governo em Florianópolis."
Como podemos observar hoje, a falta de reconhecimento e de visibilidade é quase que inexistente. Odilon sempre foi ligado ao esporte. Antes de ser remador, no tempo do Exército, jogava basquete, chegando a criar um time, que chamou "Cruzeiro do Sul" e se tornou o time da cidade, dele participando o comandante e o tenente da Companhia. Odilon afirma que o esporte o favoreceu em todas as etapas de sua vida: no exército, no emprego, na saúde, na oportunidade de conhecer o mundo e na projeção social.
Eu viajei o mundo todo!"
O Clube de Regatas Aldo Luz, em seus cem anos de história, possui excelentes competidores, muitos com diversas medalhas e títulos em várias categorias, além de um currículo invejável, tendo ganho diversos campeonatos. O Clube conta com um histórico de atletas competindo pelo brasileiro, disputando campeonatos sul-americanos, pan-americanos, mundiais de remo e paraolimpíadas. Este ano a equipe do Aldo Luz novamente levará seus campeões à Hungria, sendo Odilon apenas um dos competidores, um dos mais velhos da equipe, e ainda campeão mundial. Carlos Alberto Dutra, mais conhecido como "Liquinho", é outro competidor que participará do mundial na Hungria. Liquinho compete há sessenta anos.
O Clube Aldo Luz foi o primeiro a dar a "Volta na Ilha" em um barco a remo, tendo participado dos Jogos Paralímpicos em 2008, três competidores André Dutra, Norma Moura e Josiane Lima representaram o Brasil nos Paraolímpicos em Pequim. O clube também participou dos Paralímpicos de 2012 e 2016. Foi vencedor do Campeonato sul-americano de Remo e do Indor em 2017. Neste ano, Guilherme Soares ganha o Troféu Gustavo Kuerten como melhor Técnico tendo vencido o sul-americano no Skiff Duplo. Em 2018, o Aldo Luz alcançou o 2º lugar no pódio no brasileiro de Para-Remo em São Paulo. Foi vencedor do Campeonato sul-americano de Remo e do Indor em 2017. Entre dezenas de campeonatos, o Aldo Luz ganhou 18 campeonatos catarinenses, quatro sul-americanos e um mundial, tendo sido vice-campeão no Campeonato Brasileiro de Remo em São Paulo o ano passado.
O Clube de Regatas Aldo Luz foi fundado em 27 de dezembro de 1918, recebendo este nome em homenagem a um de seus fundadores, Aldo Luz, filho do ex-Governador Hercílio Luz. Aldo faleceu um ano após a fundação do clube com 22 anos apenas. O Clube de Regatas Aldo Luz foi o terceiro a ser fundado em Florianópolis, com o nome Clube de Regatas Florianópolis. Aldo Luz queria fundar a Federação de Remo, mas para que isso fosse possível, era preciso que houvesse ao menos três clubes de Remo na cidade. E com esse entusiasmo, o jovem Aldo Luz fundou o "Clube de Regatas Florianópolis". Os campeonatos que aconteciam naquela época eram um grande evento, já que toda a população vinha apreciar o esporte, pois o público tinha um grande interesse e entusiasmo pelo Remo. Diferente de hoje que está esquecido. O Governo Federal e o Estado também não incentivam o esporte. Há uma pequena ajuda da Prefeitura Municipal de Florianópolis, sem a qual o Clube não sobreviveria. Depois da morte de Aldo Luz, em 1919, o governador Hercílio Luz presenteou o Clube com uma sede própria no Centro da cidade. Hoje, percebemos que os meios de comunicação oficiais também não dão a atenção que o esporte merece. Se não fosse o apoio do colunista Roberto Alves, que fala do esporte "por sua conta e risco", o Remo estaria totalmente esquecido na cidade.
O Clube não tem restrições de idade ou sexo, podem participar dos treinos desde crianças até pessoas na melhor idade. Além do competidor Odilon, soubemos que o clube conta com um remador de 93 anos, o Sr. Tremer, mas não conseguimos contato com ele. Mulheres que querem se dedicar ao esporte também são bem-vindas e têm seu espaço reservado no Clube. Um exemplo disso é a treinadora Tainá Korpalski que rema há oito anos. A atleta, que antes era remadora e competidora, hoje é uma das treinadoras do clube. Tainá foi vencedora da Copa Catarinense de Remo e do Prêmio Estadual de Remo. Ela informa que os treinos têm início às 6h da manhã seguindo até às 10h. O trajeto tem quatro baias, sendo duas para o sul, das quais uma vai até a Costeira, e duas para o Norte, uma até Santo Antônio e outra até Biguaçu. A treinadora foi uma das setenta participantes do primeiro "Desafio Volta a Ilha" no ano passado, tendo sido o "Aldo Luz" o primeiro a realizar a Volta à Ilha na cidade. Foi um verdadeiro desafio. Os remadores ficaram em pontos estratégicos na ilha para revezamento e tiveram que parar a competição por algumas horas devido a um ciclone extratropical que passava pela ilha. Tainá explica que antes dos remadores saírem é necessário observar o vento. Questionado com relação à participação de crianças no Remo, ela informa que o esporte aceita crianças a partir de 9 anos, no entanto, o aluno mais novo tem 12 anos. Os remadores são unânimes em dizer que a melhor idade para iniciar no Remo seria entre 11 e 12 anos. Nesta idade, até 17 anos, o clube dá o treino gratuitamente para os que querem praticar o esporte.
Os jovens têm grande participação no esporte; Matheus Henrique da Silva Alvares rema há cinco anos, três pelo Clube Aldo Luz, e diz que iniciou no esporte graças a um convite que recebeu na escola, da Confederação Brasileira de Remo (CBR). Para Matheus valeu a pena ingressar no Remo e ele recomenda que os jovens e as crianças participem do esporte. Matheus afirma que quanto mais novo, criança mesmo, melhor. E fala da importância de se criar resistência, aprender e dominar a técnica, focar. Diz que no início o treino pode parecer pesado, pois, segundo ele, o iniciante leva em torno de seis meses para se adaptar e uns dois anos para remar bem, mas isto varia de acordo com cada indivíduo. Matheus reforça que vale a pena fazer o esporte independentemente de idade. O competidor, hoje com apenas 18 anos, participa dos campeonatos estaduais e brasileiros, em 2017 ganhou o 2º e o 3º lugar no brasileiro, em 2018 foi vice-campeão brasileiro. Matheus falou da importância de estar bem treinado para participar destes estaduais e dos brasileiros; o Clube patrocina os atletas que atingem o Pódio. Matheus optou por remar no Clube Aldo Luz por ser hoje o mais bem estruturado, com os melhores barcos e o único a ter um tanque de treinamento para iniciantes. Ele relatou também a respeito de uma bolsa concedida pelo governo, e que foi cortada no governo anterior, mas acredita na possibilidade de que o atual governo, por meio do Ministro da Cidadania, possa restituir essa bolsa.
E para que tantos acontecimentos importantes possam permanecer na história do Clube e da cidade de Florianópolis, foi decidido que o Clube de Regatas Aldo Luz lançará um livro de fotografias históricas. A obra terá como objetivo difundir o Remo e mostrará a evolução do esporte desde sua implantação na cidade no século passado. O livro ilustrará a evolução dos barcos, capas de jornais da época, as categorias de Remo, e como o Remo estava incluso na evolução e no crescimento da cidade nos últimos cem anos; a organização está sendo feita pelo ex-Presidente do Clube, hoje membro do Conselho Deliberativo, André Arthur Dutra, que também foi coordenador do Centenário do Clube no ano passado. A data para o lançamento ainda está em discussão, talvez ocorra em julho. André é filho do remador Carlos Alberto Dutra, o "Liquinho", remador há sessenta anos.
O esporte é tão antigo que podemos ver sua menção em histórias que remontam à antiguidade, entre gregos, romanos e fenícios. Não há uma data precisa de quando o esporte realmente passou a existir. O que sabemos é que foi no rio Nilo que ocorreu a primeira regata por barqueiros no Antigo Egito. Estes remavam pela honra de poderem conduzir as procissões funerárias dos faraós. Há relatos de que na Grécia, 19 a.C., o Príncipe de Troia, Enéias, realizou em Troia uma competição em homenagem a seu pai. Foi uma disputa entre quatro barcos movidos por 200 prisioneiros de guerra, todos acorrentados à embarcação. Contudo, somente em 1775 é que foram disputadas as primeiras competições oficiais em Londres, no rio Tâmisa. Em 1900, a modalidade estreou nas Olimpíadas de Paris. A participação das mulheres nas Olimpíadas de Remo só se deu em 1976, em Montreal.
No Brasil, de acordo com a Confederação Brasileira de Remo, o esporte teve início no Rio de Janeiro, em 1851. A Confederação Brasileira de Remo só foi fundada em 25 de novembro de 1977. Ainda com relação às olimpíadas, o Brasil obteve o 4º. lugar no Double Skiff, nas olimpíadas de 1924, em Paris, com os competidores brasileiros Carlos Castello e Edmundo Castello.
Os três clubes de Remo em Florianópolis são o Martinelli, o Riachuelo e o Aldo Luz. Todos ficam no Parque Náutico Walter Lange, sobre o qual, aliás, gostaríamos de abrir um parêntese: "não há acesso para que pedestres cheguem até o local com segurança". Outro item a exigir que a Prefeitura Municipal de Florianópolis precisa tome providências: a criação de um acesso que permita que os pedestres consigam chegar com facilidade e segurança ao Parque Náutico Walter Lange. Uma passarela entre o Terminal Rita Maria e o Parque seria um grande incentivo àqueles que queiram se dirigir a pé até o parque. Hoje, quem precisa ir até o parque tem que fazer o trajeto de carro, pois entre o Rita Maria e o Parque Náutico há um elevado e diversos pilares, impedindo o trânsito seguro de pedestres. Fica a dica para a Prefeitura de Florianópolis.
O Clube de Regatas Aldo Luz está localizado no Centro de Florianópolis, na av. Antônio Pereira Oliveira Neto, S/N - Parque Náutico Walter Lange - Garagem 02, ao lado das Pontes Colombo Salles e Pedro Ivo Campos, com uma bela vista para a Ponte Hercílio Luz.
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